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6 de julho de 2020

Centrais: democracia vai além do voto. São direitos, trabalho, renda e cidadania

Entidades enaltecem unidade na Virada da Democracia e anunciam ato na quarta (8) diante do Ministério da Fazenda, pela manutenção do auxílio emergencial

O mundo do trabalho também esteve presente na Virada da Democracia, neste domingo (5), por meio de representantes de centrais sindicais. Além dos dirigentes, o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Dieese, ressaltou a importância do evento, que contou com mais de 70 eventos e participação de 140 organizações. “As centrais, por sua vez, consideram essencial a defesa da democracia, portanto a proteção do Estado democrático de direito, das instituições que compõem a sociedade, Congresso, STF, sindicatos, partidos”, afirmou Clemente. “Não só a defesa, mas a promoção da democracia, para que esses valores sejam fortalecidos. E que esse fortalecimento resulte em mudanças que protejam a vida”, acrescentou.

Uma medida lembrada pelos sindicalistas é da implementação do auxílio emergencial. Primeiro, a mobilização para aumentar o valor, dos R$ 200 pretendidos pelo governo para R$ 600, e agora para garantir a manutenção pelo menos até dezembro. Nesse sentido, na próxima quarta-feira (8) as centrais farão ato a partir das 11h30 diante do Ministério da Fazenda, pelo auxílio emergencial e por um programa permanente de renda básica. Clemente lembrou que a economia já mostravam mau desempenho antes mesmo da pandemia, mas a crise sanitária trouxe um elemento a mais a um “problema estrutural”: a desigualdade. “Há também uma agenda de proteção aos empregos, da renda, e uma preocupação central com a retomada da atividade econômica.”

 

Agenda de proteção

 

Ao responder a questões formuladas por Talita Galli (TVT) e Rafael Garcia (Rádio Brasil Atual), Clemente observou que a política econômica implementada por Paulo Guedes “já estava na contramão” antes mesmo da crise sanitária. “Estavam entregando um crescimento medíocre, o país patinava do ponto de vista econômico. Empregos precários, sem proteção social. O que vinha sendo entregue antes já era muito distante do que o país precisava do ponto de vista de uma dinâmica econômica.”

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, falou em “renascimento” do movimento sindical a partir dos anos 1980, no enfrentamento à ditadura, para afirmar que a democracia está novamente sob ameaça no Brasil. Mas ele observou que o sistema democrática vai muito além do direito ao voto.

“Quando a gente fala em democracia, a primeira coisa que vem na nossa mente é o direito de votar, de se expressar de maneira de livre. Mas democracia é muito mais. É um modelo de sociedade protetora de direitos. E é na democracia que os trabalhadores avançam em novas conquistas”, afirmou .

 

Onda de direita

 

“Assim como no passado, vamos derrotar essa onda de direita que tem assolado o nosso país. “Cada central tem sua concepção, mas neste momento (o importante) é) a unidade de todos nós em defesa dos direitos da classe trabalhadora e da democracia no seu sentido mais amplo”, disse ainda o presidente da CUT, ressaltando na Virada da Democracia a importância da unidade no movimento sindical.

“Não existe país desenvolvido que não tenha um movimento sindical forte e respeitado”, afirmou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, defendendo valorização do papel institucional da entidades que representam os trabalhadores. Ele também defendeu a unidade das centrais para enfrentar “os desmandos do governo, os ataques aos direitos, às instituições”.

Para o presidente da UGT, Ricardo Patah, em um país com tanta desigualdade, o papel do movimento sindical é ainda maior “do ponto da vista da inclusão social, da capacitação, qualificação, conscientização”. O desafio inclui uma “economia em frangalhos”, crise na saúde e na política. Por isso, se torna ainda mais importante a “capacidade de interlocução” das centrais.

 

Ofensiva brutal

 

Presidente interino da CSB, Álvaro Egea observou que o mundo do trabalho tem sofrido uma “ofensiva brutal” desde a reforma trabalhista implementada em 2017. Ele citou ainda a sucessão de medidas provisórias, já no período da pandemia, que têm como objetivo a redução de direitos. E destacou a greve dos entregadores de aplicativos na semana passada. É preciso organização “para que a gente possa derrotar essa política nefasta do governo federal e dos empresários”.

Diretor da Nova Central, José Reginaldo afirmou que as centrais já tinha a defesa da vida, do emprego e da democracia como eixo de atuação. Também citou as recentes MPs, “que afastam a possibilidade de proteção coletiva do trabalhador”. “A gente percebe que o governo, no seu afã de promover uma proteção do capital, desprotege a vida da classe trabalhadora.” O diretor da CTB René Fernandes identifica “traços de autoritarismo” no governo federal, com tentativas de intervenção em instituições e desmonte do aparato público.

Durante a live das centrais na Virada da Democracia, no início da tarde de ontem, foram exibidas cenas de protestos contra instituições. Em um deles, era possível ouvir o coro: “STF, presta atenção, a sua toga vai virar pano de chão”. Também foram levadas ao ar cenas de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes contra direitos sociais.

 

Atentos aos sinais

 

“O movimento sindical foi um dos instrumentos mais importantes (para a redemocratização)”, comentou Patah. “Sabemos efetivamente o que significa uma tortura, as restrições – da liberdade, do pensamento, da cultura, do trabalho da própria vida. Os sinais estão sendo dados. Nós precisamos ficar muito atentos a eles. Temos de ser muito firmes, porque a democracia significa vida, é um elemento fundamental do crescimento econômico e da própria cidadania. É o elemento mais importante para que nós possamos respirar.”

Reginaldo, da Nova Central, chamou a atenção para a “dramaticidade” dos números sobre o coronavírus e seus impactos para os trabalhadores, especialmente os do setor de saúde. Egea cita “perversidade” de Guedes em declarações que mostram preconceito contra o serviço público. Todos destacaram a mobilização pelo auxílio emergencial.

“É um dos piores período da nossa história”, afirmou René, da CTB. Os últimos dados da Pnad (a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGEdemonstram que 50% da mão de obra está fora do mercado de trabalho, está sem emprego, sem uma forma de subsistência. É um dado grave”, comentou, citando ainda a reforma trabalhista, a nova lei da terceirização e as MPs 905 (derrubada), 927 (em tramitação) e 936 (aprovada).

 

Virada da democracia com propostas

 

“O governo fez toda uma propaganda que não era possível dar um auxílio emergencial maior que 200 reais. Foi o movimento sindical que convenceu o parlamento que tínhamos de ter um abono maior”, afirmou Miguel, da Força. Ele lembrou que as centrais entregaram em 16 de março um documento com propostas ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). E também citou a greve dos entregadores: “Venderam a ideia de que seriam empreendedores e eles foram transformados em escravos do século 21”.

Sérgio Nobre, da CUT, também falou em propostas. “Estamos com pouco mais de três meses de pandemia e o Brasil já vem no caminho errado há muito tempo, com essa política de entregar o patrimônio, essa ojeriza que tem a tudo que é público”, afirmou, lembrando que o país deverá ter neste ano o pior PIB de sua história e um número “jamais visto” de desempregados.

“Estamos apresentando um programa emergencial para o país, que precisa mudar de rumo, ter um novo modelo econômico”, defendeu. O dirigente citou um “amplo programa habitacional”, ações em mobilidade urbana, infra-estrutura e segurança alimentar. “Tem muita coisa para fazer, e nós podemos gerar milhões de empregos, mas para isso tem que mudar de rumo. Desse governo a gente não espera nada.”

 

Fonte: Rede Brasil Atual | Escrito por: Vitor Nuzzi | Edição: Paulo Donizetti de Souza | Foto: Reprodução

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